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Submissão às Autoridades

Thiago Machado

Membro da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Petrópolis (IECLB)

Eu costumo dizer: "O bom de ser cristão é que não nos foi dito para decidirmos o que o país deve fazer, mas para nos submetermos e obedecermos à autoridade que Deus colocou".

Quem discorda da submissão às autoridades costuma evocar o exemplo de Hitler e outros crápulas da história, esquecendo que devemos nos submeter sempre, porém obedecer naquilo que não seja contrário à Palavra de Deus.

Submissão é uma coisa, obediência é outra. O cristão deve SEMPRE se submeter à autoridade porque TODA autoridade foi estabelecida por Deus, independente se foi eleita ou tomou o governo pela força. No final o Senhor Jesus cobra´ra da autoridade suas decisões certas ou erradas, mas do cristão cobrará sua submissão.

Quando alguém diz que são os homens que dão títulos a homens, como se isto fosse desculpa para não nos submetermos, esquece que todas as autoridades são, de alguma maneira, estabelecidas neste mundo, segundo decisões humanas. Algumas são eleitas pelo voto direto, outras por voto indireto, outras assumem seu posto por meio de um golpe e outras pela invasão de um país, etc.

Pôncio Pilatos, a autoridade sob a qual Jesus se colocou em submissão, era um invasor do território dos judeus. Independente de como tenha chegado ali, o fato de uma autoridade ocupar trono é suficiente para reconhecermos que tem a chancela divina. Pensar diferente significa não reconhecer autoridade nenhuma ou querer que seja autoridade apenas aquele que eu achar que é autoridade. Isso é rebelar-se contra os princípios estabelecidos por Deus na Criação.

Deus estabeleceu a autoridade humana com poder de vida e morte sobre o próximo por meio de Noé. Quando ele fez isso, nem havia população para Noé exercer sua autoridade, pois ele era um simples patriarca com autoridade sobre sua esposa, seus filhos e suas noras. Mesmo assim, a partir de então Deus passou a reconhecer a autoridade de homens sobre seus semelhantes, independente do modo como tenham chegado ao poder. Quando Jesus estava na terra, os judeus viviam em uma pátria invadida pelo poder romano, onde havia vários níveis de autoridade, começando pelo César, que não necessariamente era o nome do Imperador, mas seu título, como era o Faraó. 

Outros países tiveram títulos semelhantes, como o Imperador do Brasil, o Kaiser da Alemanha e o Czar da Rússia. O Senhor Jesus se submeteu a todas as camadas de autoridade que estavam sobre, dando "a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mt, 22.21). Por esta razão, foi submisso até ao ímpio governador Pôncio Pilatos, que se gabava de ter autoridade sobre Jesus para fazer o que quisesse e recebeu uma resposta rápida: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada" (Jo, 19.11).

Quando Jesus nasceu, a autoridade máxima no Império Romano era César Augusto, ambos títulos que assumiu para si. Seu nome era Gaius Octavius Thurinus. Na adolescência de Jesus, quem reinava era Tibério César e, logo depois da morte de Jesus, quem subiu ao poder foi seu sobrinho-neto Gaio, chamado Calígula, que enlouqueceu e aterrorizou o reino. Cláudio foi o próximo, por volta do ano 43 d.C. e foi sucedido por Nero, no ano 54 d.C. Foi ao Imperador Nero que o apóstolo Paulo apelou em Atos 25.11. Havia ainda as autoridades locais dos judeus, como a dinastia de Herodes, pois era estratégia dos romanos colocar governantes fantoches nos países que invadiam, a fim de reduzir a rejeição do povo.

Bem, você já deve ter lido livros de História suficientes para saber que o Imperador Nero não era nenhuma Madre Teresa de Calcutá, mas foi sob este homem cruel que os póstolos e discípulos viveram e foram executados. Depois vieram Vespasiano, Tito, que massacrou os judeus e destruiu o Templo de Jerusalém, seguido de Domiciano, que enviou o apóstolo João para o exílio na Ilha de Patmos. Seu sucessor, Adriano, de tanto os judeus pedirem para reconstruir o Templo, construiu um templo para Júpiter no lugar do Templo de Deus e renomeou Jerusalém, que passou a se chama Élia Capitolina, dedicada à adoração de Adriano e de seu deus Júpiter.

Foi sob essas autoridades que viveram os primeiros cristãos, e era a elas que o apóstolo Paulo se referia quando escreveu aos romanos: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque NÃO HÁ AUTORIDADE QUE NÃO PROCEDA DE DEUS; E AS AUTORIDADES QUE EXISTEM FORAM POR ELE INSTITUÍDAS. DE MODO QUE AQUELE QUE SE OPÕE À AUTORIDADE RESISTE À ORDENAÇÃO DE DEUS; E OS QUE RESISTEM TRARÃO SOBRE SI MESMOS CONDENAÇÃO". (Rm, 13.1-2).

Ele não diz "as autoridades que elegemos" ou "as autoridades justas", mas simplesmente que todas as autoridades que existem vieram de Deus e foram ordenadas por Ele. Outras passagens bíblicas deixam claro de onde emana todo o poder e a necessidade de nos submetermos às autoridades, como Provérbio 8.15 que diz: "Por meu intermédio, reinam os reis e os príncipes decretam justiça". O próprio Daniel, que viveu sob a autoridade de Nabucodonosor, foi o porta-voz que Deus usou para alertar o monarca de sua loucura e pretensão de se achar um "deus": "Serás expulso de entre os homens e a tua morada será com os animais do campo e far-te-ão comer ervas como os bois e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, ATÉ QUE APRENDAS QUE O ALTÍSSIMO TEM DOMÍNIO SOBRE O REINO DOS HOMENS E O DÁ A QUEM QUER." (Dn, 4.32).

Quando vamos às instruções dadas à Igreja, além de boa parte do capítulo 13 da Carta do apóstolo Paulo aos Romanos, temos o que ele escreve a Tito, de como deveria instruir os cristãos que visitasse em suas viagens: "Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra". (Tt, 3.1).

Submissão e obediência. O apóstolo Pedro também detalha ser a vontade de Deus que vivamos em submissão às autoridades constituídas: "Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para o louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática, façais emudecer a ignirância dos insensatos, como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade como pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus." (1 Pe, 2.13-16).

Um mundo sem autoridade seria um mundo de anarquia, onde cada um pensaria ser sua própria autoridade. Mas, autoridade e ordem temos até na formação da Igreja, quando o Espírito Santo estabeleceu uma autoridade local nas comunidades, os supervisores que chamou de anciãos, bispos, presbíteros, além do termo guia em Hebreus 13.17, que, em algumas versões, aparece como pastor. Eram sempre mais de um e tinham por objetivo supervisionar e apascentar o rebanho de Deus localmente. Embora fossem originalmente eleitos pelos apóstolos e seus designados, como era Tito, que o apóstolo Paulo deixou "em Creta, para que pusesse em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísse presbíteros". (Tt 1.5). 

Hoje, na ausência dos apóstolos, eles são apenas apontados pelo Espírito e reconhecidos pelos irmãos. Mesmo assim são autoridade sobre a comunidade ou paróquia local, como vemos na exortação: "Obedecei aos vossos guias (pastores) e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros." (Hb 13.17). É por tudo isso que me surpreende o fato de muitos cristãos não entenderem o princípio da autoridade, que foi estabelecido na Criação e é representada pelo termo "cabeça" em algumas passagens, como em 1 Coríntios 11. Ali, temos Deus, que é a cabeça de Cristo, Cristo como cabeça do homem e o homem apontado como cabeça da mulher. Nas diferentes áreas do convívio social, temos também autoridades diferentes, como policiais, professores, patrões e um bom exemplo da submissão e obediência que se deve às autoridades é a autoridade mais próxima de nós, que é a do círculo familiar, uma figura da relação que os salvos, os filhos de Deus, têm com Deus Pai. "É para disciplina que perseverais Deus vos trata como filhos; pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, dois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiram e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiram por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade." (Hb, 12.7-10).

O desprezo pela autoridade contaminou de tal modo os cristãos que fiquei surpreso quando li a postagem de um pastor protestante numa rede social, o qual escreveu: "Existe por trás desse governo uma mente intelectualmente limítrofe, cientificamente ignorante, ideologicamente totalitária, religiosamente obscurantista e moralmente perversa. É urgente que seja exorcizada!". Nos comentário se sua postagem, pensei em colocar apenas uma passagem do Livro dos Atos, esperando que sua consciência fosse despertada: "Fitando Paulo os olhos no Sinédrio, disse: Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até o dia de hoje. Mas o sumo sacerdote, Ananias mandou aos que estavam perto dele que lhe batessem na boca. Então, lhe disse Paulo: Deus há de ferir-te, parede branqueada! Tu estás aí sentado para julgar-me segundo a lei e, contra a lei, mandas agredir-me? Os que estavam a seu lado disseram: Estás injuriando o sumo sacerdote de Deus? Respondeu Paulo: Não sabia, irmão, que ele é sumo sacerdote; porque está escrito: NÃO FALARÁS MAL DE UMA AUTORIDADE DO TEU POVO." (At, 23.1-5).

Quando vi isso vindo de um que se propõe a ser guia de cristãos, me veio à memória o que disse Judas em sua carta: "Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores." (Jd, v. 8). Blasfemar das autoridades indica falta de sintonia com a vontade de Deus. O cristão deveria se ocupar em orar pelas autoridades que estão sobre nós, apesar de o respeito do qual Judas fala é mais amplo e inclui anjos, até mesmo os caídos. "Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!" (Jd, v. 9). Isto revela a gravidade de se blasfemar das dignidades, sejam quais forem. O apóstolo Paulo explica a Timóteo e a nós como e porque orar pelas autoridades: "Antes de tudo, pois, exortou que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade." (1 Tm 2.1-4).

Não devemos jamais maldizer os que "se acham investidos de autoridade" (1 Tm, 2.2) e, sim, orarmos por eles, para que se convertam e tenham sabedoria em governar, para podermos viver uma "vida tranquila e mansa, com toda a piedade e respeito". (1 Tm, 2.2). Pergunto: Seria piedade e respeito difamar uma autoridade? Já é sabido que o desprezo e difamação da autoridade é prática normal dentro das famílias de incrédulos, onde filhos já não honram os pais, professores, policiais, etc. Mas nunca pensei que viveria para ver o embrião do que Sócrates (e Platão) chamou de "a tirania da maioria" na democracia que o profeta Daniel descreveu como os pés da estátua do sonho de Nabucodonosor.

Deus permitiu o coronavírus para revelar isso, pois nenhuma outra crise mundial teve o que vemos hoje: As autoridades em contato direto online com a opinião pública, que atira para todos os lados seus palpites e acaba influenciando os governantes como nunca antes na história do mundo. "Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro, isso será um reino dividido. Contudo, haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte e, por outra, será frágil. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão pelo casamento; mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro. Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos e subsistirá para sempre." (Dn, 2.41-44).

A profecia ainda irá se cumprir, porém a democracia, que é louvada por todos como a última bolacha do pacote em termos de sistema de governo, já prepara o terreno para essa fusão entre povo e governo, uma fusão que não tem liga alguma e será facilmente quebrada quando Cristo vier para reinar. A democracia é prima do socialismo, que também é um sistema fundamentado no homem como senhor de seu próprio governo.  Na visão dos pés da estátua, o barro nos fala de humanidade e o ferro de poder e autoridade. Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo (nesta ordem ou não), chamada por Sócrates (e Platão) de "tirania da maioria". A resposta evidente para a falta de submissão e respeito até de cristãos para com as autoridades é porque vivemos numa geração que cresceu doutrinada pela democracia e acredita que aquiolo que diz a Constituição Brasileira seja verdade: "Todo o poder emana do povo". Na contramão dos homens, a Bíblia Sagrada deixa claro que todo poder emana de Deus. "A Ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém." (1 Ped, 5.11).

Talvez tenham feito você acreditar que poderia encontrar na Bíblia Sagrada a frase "A voz do povo é a voz de Deus", mas, a verdade é que a voz do povo, que se anifestou numa eleição democrática há dois mil anos e elegeu Barrabás, foi a mesma que clamou contra Jesus: "Fora! Fora! Crucifica-o!" (Jo, 19.15). Como cristãos, temos um guia seguro, a Palavra de Deus, para saber como agir em tempos de abandono da Verdade. 

Sabe o que fez da pandemia do COVID-19 uma confusão como não houve antes na história? Hoje, a tecnologia deu voz ao cidadão comum e, queira ou não, as autoridades são influenciadas pelo que o povo diz e até por fakenews e teorias conspiratórias. Isso nos leva mais perto dos pés de barro misturado com ferro da estátua de Daniel. O diabo adora isso, porque causa confusão e incerteza, não só na mente do povo, mas dos governantes, que vacilam em suas decisões, dão ordens e voltam atrás e ficam desacreditados. No passado, o povo de Deus também passou por tempos de grande aflição e incerteza, diante da perplexidade de ordens dadas pelos governantes que podiam exterminar o povo de Deus da Terra. Mas, quantas vezes você leu de deus mudando o coração dos governantes? Muitas, não é mesmo? "Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor. Este, segundo o seu querer, o inclina." (Pv 21.1).

Uma boa leitura neste momento de tanta incerteza é o Livro de Ester, onde nem sequer é mencionado o nome de Deus, mas nós O vemos trabalhando nos bastidores, para salvar seu povo, revertendo até a plavra do rei que não podia ser mudado. No livro, Ester é encorajada por seu tio Mordecai a interceder junto ao rei pela salvação de seu povo, com estas palavras: "Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?" (Et, 4.14).

Não quero dizer que você deva ficar na porta do Palácio do Planalto esperando o Presidente sair, para tentar marcar uma audiência a fim de expor suas ideias  de como ele deve governar. Falo de outro tipo de audiência. Você pode entrar a qualquer momento em audiência com AQUELE que está acima do Presidente, para interceder por ele e pelas outras autoridades, a fim de que Deus lhes dê sabedoria de como devem agir. Vpcê estará, então, participando de uma audiência muito mais elevada, com o próprio Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recetmos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.., Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagragou pelo véu, isto, pela sua carne e, tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximamo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nbos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às suas obras." (Hb 4.16; 10.19-24).

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