Reação à publicação do P. Emérito Dr. Walter Altmann, no Facebook, em 08/02/2021, referente a Carta
- Carlos Caldeira
- 12 de fev. de 2021
- 16 min de leitura

A IECLB AINDA SERÁ O QUE ELA TEM SIDO?
Walter Altmann(*)
Fevereiro 2021
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) atravessa um momento difícil. Está em jogo sua própria identidade como igreja evangélica, igreja de confissão luterana, igreja atuante no Brasil, conforme seu nome sinaliza. Para fins do que me proponho neste texto, limito-me a duas características da IECLB.
Digo eu: É verdade! O momento é de dificuldade para a manutenção da unidade e identidade da igreja evangélica luterana que, em última análise, consiste na fraternidade clara e inequívoca entre os seus membros, independentemente de raça, cor, origem, opções pessoais, sejam da ordem que forem.
Primeiro, sua intencionalidade de lidar de maneira positiva e respeitosa com diferenças no seu interior, particularmente quando as diferenças se dão no campo ético, inclusive no tocante a posicionamentos de natureza política.
Digo eu: Inquestionável a imposição à igreja de lidar de maneira positiva e respeitosa com as diferenças, inclusive as de natureza política. Impõe-se, para o desiderato, que os responsáveis e representantes da igreja, seja em que ambiente for, limitem-se ao o quê, efetivamente, é objeto de tratamento cristão para fortalecimento da fé dos seus membros e mostrando-se, no seu ambiente, como centro de atração do bem, da harmonia, do amor através da pregação e prática do Evangelho.
A unidade da igreja se dá, segundo a Confissão de Augsburgo, artigo VII, na compreensão do Evangelho que afirma a salvação por graça e fé, e não por obras, e na administração dos sacramentos como meios da graça de Deus.
Digo eu: Perfeito! A salvação se dá pela graça e fé e não por obras.
Demais assuntos, ainda que não indiferentes, não são constitutivos para a unidade da igreja. Daí, portanto, a legítima diversidade no tocante a essas questões. Isso não significa, é claro, que quaisquer opções políticas sejam igualmente aceitáveis.
Digo eu: Demais assuntos, portanto, ainda que existentes e importantes na vida das pessoas, devidamente respeitados, devem ficar fora da vida comunitária. À pregação dos ensinamentos do evangelho dispensam, a priori, questões de foro íntimo das pessoas, mais uma vez, sejam da ordem que forem.
A partir do evangelho há uma clara orientação em favor do respeito à dignidade de todas as pessoas, do estabelecimento de sistemas e relações pautados na justiça, a afirmação da paz e o cuidado com a criação. Paulo, de quem aprendemos que somos salvos somente pela graça e por fé, foi quem deixou bem claro esta orientação: “A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros, pois quem ama ao próximo, tem cumprido a lei [...] O amor não pratica o mal contra o próximo, de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13.8 e 10).
A fé luterana traduz esta vivência do amor de muitas formas, como acima afirmado; esta é uma das saudáveis contribuições que podemos oferecer à ecumene cristã e ao mundo. Isso há de ser observado e defendido.
Digo eu: Perfeito! Respeito à dignidade de todas as pessoas.
No entanto, não é necessária nem desejável uma uniformidade em posicionamentos específicos nas áreas não constitutivas para a unidade da igreja. São, inclusive, áreas em que há mudanças contextuais e no decorrer do tempo. São assuntos passíveis de mudança e reforma.
Portanto, aí sempre haverá o espaço legítimo para o diálogo, o debate, por vezes acirrado, para que se chegue a consensos legítimos.
Digo eu: Também perfeita esta colocação. Entretanto, considerando que a falta de unidade de posicionamento não se refere ao ser cristão evangélico, no caso, todos os outros posicionamentos não dizem respeito à igreja, mas sim aos seus membros individualmente que poderão promover e participar de debates. Estando claro que são assuntos distintos do Evangelho, podem ser acomodados em quaisquer outros ambientes da vida secular, admitindo-se até que ministros do evangelho neles expressem-se. Prudente, entretanto, que o façam resguardando a instituição igreja, pelo mal que podem fazer a ela, como se vê atualmente.
A unidade da igreja, porém, transcende esses acordos e práticas porque, em última instância, é dádiva de Deus em Cristo: “a fim de que todos sejam um; e como tu és, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles [os discípulos] em nós” (João 17.21). Se isto é assim numa igreja como a IECLB, também o será na caminhada cristã de todas as demais igrejas e confissões.
Digo eu: Sem dúvida, a unidade da igreja é dádiva de Deus em Cristo. Porém, se Deus for desconsiderado nos ensinamentos, resumidos nos 10 Mandamentos, manterá a sua dádiva?
Em segundo lugar, a IECLB – desde seu surgimento – tem uma clara definição de compromisso ecumênico, porque entende ser isso consoante à própria vontade expressa de Jesus (João 17.21), como destacado acima.
Digo eu: Absolutamente correto. Não há dúvidas de que Deus, digamos, aceita as divisões e formas de visão e prática do Evangelho, aceitando a ecumene. Note-se, mais uma vez, a prática do Evangelho.
Ela se estruturou como igreja em nível nacional, a princípio na chamada Federação Sinodal, em 1949. Dentre seus primeiros atos houve a solicitação de admissão como membro do Conselho Mundial de Igrejas e da Federação Luterana Mundial, constituídos pouco após o final da Segunda Grande Guerra. Desde então, e especialmente a partir da implantação de uma elaborada estrutura nacional (1968), a IECLB tem participado na criação e na vida de inúmeros organismos ecumênicos, não por último no Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) e no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC).
Seu compromisso ecumênico está claramente ancorado na Constituição da IECLB: “A natureza ecumênica da IECLB se expressa pelo vínculo de fé com as igrejas no mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.” (Art. 5°, parágrafo 2°).
A contribuição da IECLB para o ecumenismo tem sido amplamente reconhecida inclusive por igrejas irmãs e diversos organismos nacionais e internacionais, o que faz dela uma igreja respeitada e parceira em muitos movimentos em busca da unidade, da paz e da justiça.
Digo eu: Explicações que levam a uma simples conclusão: os homens, a critério próprio, decidiram que assim deveria ser. Escreveram e definiram o que bem entenderam e fundamentaram em documentos jurídicos igualmente de lavra humana.
Pois bem, nos últimos tempos, a IECLB, inclusive sua Direção, tem sido sistemática e crescentemente atacada quando de manifestações de membros, ministros e ministras da IECLB em assuntos de ordem pública.
Digo eu: Há equívoco na escolha do verbo utilizado. A IECLB não vem sendo “atacada”, antes pelo contrário, vêm sendo alertada/ interpelada/instada/provocada a esclarecer aos seus membros em particular e à sociedade em geral, como, como Instituição Religiosa, se posiciona em relação às frequentes e inúmeras manifestações, exclusivamente de ordem política, de pessoas inequivocamente vinculadas à IECLB, por funções eclesiásticas exercidas no passado ou na atualidade. Entretanto, o que se tem visto é um silêncio que induz a compreensão de que há omissão com relação aos fatos, ou simplesmente tácita concordância. É disto que se trata: de esperar da Direção da Igreja a manifestação clara, cristalina, com todas as letras, de como se posiciona em relação aos alertas e às interpelações a ela enviadas.
O mais recente episódio ocorreu logo após a entrega no dia 26 de janeiro último ao Presidente da Câmara Federal de um pedido de abertura de processo de impeachment do Presidente Jair Messias Bolsonaro, notadamente por sua forma de lidar com o desafio colocado pela pandemia do coronavírus. Entre as 380 pessoas que assinaram a petição, pastores, pastoras e sacerdotes de várias igrejas, se encontravam também vários ministros e ministras da IECLB, além de pessoas leigas. Pronunciaram-se a título pessoal, identificando-se como ministros e ministras da IECLB, como membros que dela são, sem, contudo, levantar a pretensão de estar falando oficialmente pela igreja ou em seu nome.
Digo eu: Parte excelente para auxiliar na compreensão do artigo e na interpretação da sua finalidade, claramente a defesa da correção da iniciativa POLÍTICA dos autores do pedido de abertura de processo de impeachment do Presidente da República. Clara, igualmente, a prepotência assumindo papel de julgadores, como donos da razão. Sem deixar de ressaltar que se identificam como pastores e pastoras luteranos, sem deixar de mencionar que agem em nome próprio. Só posso entender que quer fazer com que acreditemos que não estão alinhados com o pensamento da Instituição.
Constituem, no entanto, uma voz emergente do interior da IECLB, com incidência na sociedade, conforme suas convicções e assim seu ato deve ser encarado. Se assim o fazem, essas pessoas coerentemente procuram honrar o evangelho que pregam e o ministério da graça e do amor ao qual se dedicam e para o qual, enquanto ministros e ministras, foram ordenados.
Digo eu: Estranho não!?!? Num momento são vozes próprias e individuais que se unem de forma desvinculada das suas instituições, agem em nome próprio, segundo suas convicções para, no momento seguinte, serem identificadas como “vozes emergentes no interior da IECLB, com incidência da sociedade segundo suas convicções”. O que mais claro do que isso para que se afirme que são vozes atuantes no seio da IECLB e que surgem como prováveis lideranças internas, expressando opiniões – renovo – POLÍTICAS no âmbito da Sociedade, vinculando-as, indelevelmente, à IECLB.
Já no dia seguinte, Marcos Carneiro e Ademir Kreutzfeld, respectivamente presidente e vice-presidente da Associação Luteranos Herdeiros de Worms, entidade que já em ocasiões anteriores se manifestou contra posicionamentos oficiais da Igreja ou de alguns de seus dirigentes, não sem numerosas acusações descabidas, emitiram ambos carta, embora estranhamente redigida na primeira pessoa do singular, em que, entre outras referências, condenam o ato ocorrido no dia anterior, acusam as pessoas signatárias de ferirem gravemente preceitos bíblicos e a confessionalidade luterana, substituindo-os por sua opção “político-partidária”.
Digo eu: Evidentemente que o artigo pretende contestar o objeto da criação da Associação mencionada, alegando, sem relacionar, que os dirigentes citados “efetuaram numerosas acusações descabidas”. Mais estranho, porém, é o destaque que faz “estranhando” o fato de terem enviado correspondências pessoais, “redigidas na primeira pessoa do singular”. Estranho por quê? Deveriam – errando – utilizar outro pronome? “EU” (no singular) concordo com eles.
Acusam também a Direção da IECLB de ser conivente e de acobertar tão grave infração. Conclamam, inclusive, a uma espécie de rebelião no interior das comunidades e fazem uma ameaça nem tão velada de retenção de contribuições financeiras.
Digo eu: Que novidade! A conivência está no silêncio. Na falta de veemente desautorização. Claro! Será alegado que foram emitidas notas de esclarecimentos pela direção da IECLB. Será que esclareceram mesmo, conveniente e completamente? Quanto à “rebelião”, pelo que se tem notícia, não está sendo necessário “conclamá-la”. Os membros atentos aos movimentos internos, independentemente de que ordem sejam, já estão buscando os seus caminhos para encontrar outras fontes cristãs. Indo ao aspecto prático, se sou sócio de um clube esportivo, contribuo com regularidade, mas estou descontente, não importa com o quê, uso o meu poder individual de arbítrio e me afasto, procuro outra agremiação, por exemplo, onde a piscina seja com água mais bem cuidada.
Paralelamente, houve ainda uma iniciativa com petição de assinaturas para a demanda de que a IECLB pedisse a desfiliação do CONIC, sem que os proponentes do abaixo-assinado revelassem sua identidade. Conclamam outras pessoas a assinar, enquanto escondem seus próprios nomes?
Digo eu: Novamente deixa de considerar o objeto estatutário da Associação. A manutenção de vinculação com uma instituição voltada, prioritariamente, para questões políticas e notadamente partidárias, na minha ótica, deve prescindir a presença da IECLB, arcando sozinha com o ônus decorrente. A preocupação com os nomes parece ser maior do que a gravidade da prática incondizente dos integrantes da direção do CONIC.
O presidente e a secretária executiva do CONIC são ministro e ministra da IECLB. A solicitação de desfiliação do CONIC, que a própria IECLB ajudou decididamente a criar, seria justificada porque a entidade teria se desviado de seus objetivos para uma ação de natureza “político-partidária”.
Digo eu: Dá para contestar o que foi alegado? Ao que se conhece, o presidente do CONIC é o “conhecido”, agora emérito, pastor Inácio Lemke, o apascentador do Lula, de curiosa entrevista, com o Vade Mecum Luterano sob a axila, disponível na TV CUT para os interessados. Sem comentário sobre as suas pastoras “auxiliares”, sobejamente conhecidas também da mídia oficial.
A petição, contudo, foi elaborada com competente assessoria jurídica. São dezenas e dezenas de páginas que tem-se a impressão de sequer terem sido lidas. Não há nenhuma referência a qualquer partido político.
A petição está totalmente enfocada na maneira com a qual o presidente da república tem falado e agido (ou se omitido) em relação ao enfrentamento da pandemia da Covid-19.
Perguntaram-se os signatários a que partidos pertencem as 380 pessoas que assinam a petição?
Digo eu: Vamos ver o que acontecerá com a petição que foi elaborada com “competente assessoria jurídica” quando, e se, tramitar pelos canais competentes do Congresso Nacional, onde atuam “Partidos Políticos” representando o Povo brasileiro. Os signatários até podem ser filiados a partidos, entretanto, neste caso, estariam pretendendo substituí-los na sua representação?
Sem esquecer de considerar que a Associação contesta a vinculação, voluntária ou não, da IECLB na preparação do pedido, inclusive coleta de adesões.
Como podem fazer afirmações genéricas sem fundamento comprovado?
Digo eu: Com a mesma autoridade que o autor do artigo fez ao dizer que Marcos Carneiro e Ademir Kreutzfeld apresentaram “numerosas acusações descabidas” sem relacioná-las.
Por sua vez, o CONIC é um órgão com o objetivo, entre outros, de ser uma voz pública das igrejas-membro em assuntos de relevância na sociedade brasileira.
Digo eu: Perfeito! Entendido! Relevância política e ideológica.... e para as Igrejas, para o ecumenismo é relevante o afastamento de qualquer presidente, parlamentar, ministro do STF, etc... etc.. !?!?!?
Ora, a crise sanitária que se abateu sobre o mundo e particularmente sobre o nosso país tem afetado – de forma dramática – milhões de pessoas infectadas e milhares de famílias que perderam seus entes queridos, em muitos casos, por motivos que poderiam ter sido evitados.
Digo eu: Argumentando só por amor ao debate, uma vez que não se trata de assunto previsto no objetivo da Associação. Interessante a certeza na afirmação de que mortes poderiam ser evitadas. Que tal relacionar com absoluto grau de certeza de que mortes não teriam ocorrido? Evidentemente que não posso deixar de pedir que sejam relacionados os motivos que impediram que mortes fossem evitadas.
Esta realidade trágica não deve ser levada em conta pelas igrejas e seu múnus profético?
Digo eu: Certamente, e como profética, deveria ter, de forma antecipada, alertado não ao Brasil apenas, mas ao MUNDO, que haveria uma pandemia e que a ciência não teria meios imediatos de combate-la.
Quanto ao pedido de desfiliação, parece-me que solicitação de tamanha envergadura é totalmente descabida, em face do histórico e constitucional compromisso ecumênico da IECLB.
Intensificar o diálogo interno acerca do ecumenismo e dos objetivos dos órgãos ecumênicos a que a IECLB está vinculada, será muito útil; mas é totalmente fora de propósito a tentativa de desmonte de um compromisso histórico e constitucional da IECLB.
A ecumenicidade da caminhada da IECLB não é algo de somenos importância, mas parte essencial da própria identidade da IECLB.
Digo eu: Repetindo, compromissos assumidos por homens. Indago, é lícito se depreender que as igrejas que não integram o CONIC não são ecumênicas?
Ora, a manifestação da Associação Luteranos Herdeiros de Worms, que abordarei de maneira mais extensa e, ainda assim, só parcialmente, constitui um ataque frontal à identidade histórica e confessional da IECLB. Não porque seus signatários e a própria entidade porventura discordem do pedido de impeachment, o que obviamente é seu direito numa sociedade democrática.
Digo eu: Evidentemente que, como cidadãos, os integrantes a Associação podem ter opinião sobre o pedido de impeachment, inclusive apoiando ou não, confirmando a sua afirmação de que se trata de um direito democrático. Entretanto, propositadamente ou não, o autor desconsidera que a Associação, ao manifestar-se, também utiliza o seu direito democrático e, principalmente estatutário. Seria este conhecido pelo autor? Será que ainda é necessário reforçar que a Associação contesta, apenas e tão somente, a vinculação da IECLB ao pedido político???
Trata-se antes de um ataque despropositado porque consideram que esse seu posicionamento num assunto de ordem política e pública – da maior gravidade – seja o único admissível para a IECLB e que as pessoas, que porventura divergem de sua posição, devem ser punidas.
Mais ainda, num gesto carregado de temeridade, conclamam lideranças comunitárias a agirem nesse sentido, num espírito nitidamente sedicioso. Esse viés excludente de quem pensa diferentemente em assunto de ordem política é que deve ser veementemente repudiado como contrário à verdadeira confessionalidade luterana e, portanto, uma ameaça à própria identidade da IECLB.
Digo eu: Novo engano do autor que, considerando as afirmações que faz, evidentemente, desconhece a finalidade da Associação. Jamais a Associação pretendeu ser a fonte de orientação da IECLB e, muito menos, tem o objetivo de dividi-la. Antes, pelo contrário, diante dos absurdos praticados fora do Evangelho que passaram a ser explícitos na IECLB, busca de forma organizada e oficial alertá-la dos desvios dos seus atos normativos. Evidentemente que uma instituição que tem uma causa e um ideal, no caso a fidelidade à Confessionalidade Luterana e, principalmente, ao Evangelho de Jesus Cristo, é seu papel alertar aos demais membros o que observa, evidentemente, sendo de cada um e de cada uma a decisão quanto a escolha do caminho a seguir.
A manifestação dessa Associação pretende ser um desdobramento fiel de um preceito bíblico e de propósito do reformador Martim Lutero. O texto bíblico referido é aquele de João 19.10-11, em que Jesus afirma a autoridade de Pilatos como vinda de Deus. Portanto, o respeito à autoridade constituída seria um preceito bíblico e, consequentemente, assim pensam os signatários, o pedido de impeachment do Presidente do Brasil seria algo que devesse ser rechaçado como antibíblico. Estranhamente – mas quem sabe reveladoramente –, não me recordo de ter visto tal tipo de argumentação quando do processo que levou ao impeachment da Presidenta Dilma. Ora, o argumento é de uma estreiteza constrangedora.
Digo eu: O que pretende o autor? Confundir, como parece ter feito à luz dos comentários postados na rede social? Compara um pedido de impeachment do presidente em exercício, sem que haja processo aberto e comprovado de que descumpriu obrigação prevista com punição extrema, com o processo da ex-presidente, acusada de crime de responsabilidade e que, por ter sido comprovada, teve o mandado cassado. Novamente desvia-se, provavelmente propositadamente, da questão central que disse pretender abordar – a defesa dos signatários – esperando que a Associação adentre a esfera que combate, ou seja a politização da atividade eclesiástica. Parece que não entendeu, ou não quer entender, que a questão não é o impeachment em si, mas sim – e apenas – a atuação de ministros e ministras, ativos ou não, como ele, em assuntos que levam o Nome da Igreja Evangélica de Confissão Luterana – IECLB para o mundo político. E, pior, político-partidário, com inequívoca tendência “progressista”.
Além do que, falha o autor, clamorosamente, ao “cobrar” da Associação manifestação em relação ao processo da ex-presidente Dilma, deixando de verificar que a Associação Luterana Herdeiros de Worms, foi fundada em Novembro de 2017, constituída em AGO realizada em 27.04.2018, enquanto que o impeachment da ex-presidente ocorreu no dia 31.08.2016.
Esclarecida “falha” da Associação, considerando o que colocou acima: “Estranhamente – mas quem sabe reveladoramente –, não me recordo de ter visto tal tipo de argumentação quando do processo que levou ao impeachment da Presidenta Dilma. Ora, o argumento é de uma estreiteza constrangedora.” ????
Por delicadeza não vou perguntar: Constrangimento de quem?
O que é autoridade? Seria uma pessoa que seja detentora do cargo de presidente da república? É o que os signatários em sua argumentação pressupõem: assim como Jesus reconheceu a autoridade de Pilatos, assim deveríamos nós hoje reconhecer a autoridade de Bolsonaro.
Num estado democrático de direito, “autoridade” não é uma pessoa, mas todo um ordenamento sistêmico, em que há três “poderes” (executivo, legislativo e judiciário), com um arcabouço legal calcado na Constituição e num conjunto de leis e normas. Aliás, o Artigo 1º da CF de 1988 diz explicitamente que a autoridade maior em nosso país é o povo, pois dele emana o poder político. E este povo é quem o delega a seus representantes legais conforme determina a Constituição.
Digo eu: Faço considerações sobre a sequência do artigo, porque estritamente de ordem política, porque me manifesto em nome próprio e sem procuração de pessoas físicas ou jurídicas...
Apesar de dispensável a “aula” sobre autoridade, impossível não destacar que, como EU disse em comentário acima, reconhece, porque é da Lei, que: “a autoridade maior em nosso país é o povo, pois dele emana o poder político. E este povo é quem o delega a seus representantes legais conforme determina a Constituição”.
Obrigado por reforçar que cabe aos representantes legais do Povo a atuação política. Aliás como temos sobejamente observado, partidos políticos com baixa expressão e voz no Congresso Nacional, usando e abusando, buscam resolver a sua “baixa estatura” com incansáveis apelos ao STF, de modo geral, não atendidos, porque descabidos, que podemos qualificar como esperneio dos derrotados inconformados.
As pessoas detentoras de cargos e funções nesse ordenamento são transitórias e sujeitas todas elas, por mais elevados que sejam seus cargos e suas responsabilidades, aos preceitos constitucionais e legais. Portanto, a “autoridade” que devemos respeitar é o próprio Estado Democrático de Direito, e não simplesmente uma pessoa transitoriamente detentora de um cargo. Além disso, esta pessoa de forma alguma tem o direito de fazer uso arbitrário da própria Constituição e das leis que regem as ações de um presidente da república.
Digo eu: Mais uma aula, também desnecessária, dado que ensina o óbvio. Só ficou faltando demonstrar o uso arbitrário da Constituição e das Leis que regem as ações de um presidente da República. A propósito, se forem achadas, convém, por ser mais adequada e útil ao processo, apresenta-las aos desatentos partidos da oposição, de modo a que possam utilizá-las nas demandas pelo afastamento do presidente.
A possibilidade de impeachment está prevista na Constituição brasileira. Portanto, solicitar o impeachment de um governante não caracteriza de forma alguma um desrespeito à autoridade, mas, contrariamente, expressa a observância do preceito constitucional e, portanto, respeito à “autoridade”.
Digo eu: Curioso e intrigante o esforço para justificar a ação de ministros e ministras do evangelho, eméritos ou não, em ações políticas.
Deriva daí que quem julga ser improcedente o pedido de impeachment tem a possibilidade e até mesmo o dever de apresentar as razões pelas quais considera improcedente tal pedido. E a causa prosperará ou não, inclusive conforme injunções de interesses políticos. Ora, tudo isso faz parte do desenrolar da democracia e, por conseguinte, o argumento de desrespeito à autoridade é absolutamente falacioso. Ele não se sustenta.
Digo eu: Perfeito! Absolutamente perfeito! Sem dúvida, prosperando nas casas da Democracia qualquer pedido de impedimento, com certeza os advogados e os partidos de sustentação adotarão medidas para contradizer as eventuais afirmativas, absurdas ou não. Disso pode ter certeza e não se preocupar. O processo democrático – tal qual o conduzido pelo Renan Calheiros e pelo Ministro Ricardo Lewandowski - será rigorosamente observado.
Chama a atenção, porém, que a manifestação da presidência da Associação Luteranos Herdeiros de Worms não apresente uma única palavra, uma única sequer, acerca das razões elencadas na petição de impeachment, a saber as numerosas palavras, manifestações, gestos, comportamentos, decisões e omissões do Presidente acerca do combate à Covid-19.
Digo eu: Cansativo, não! A Associação não está preocupada se vai ou não haver processo de impeachment, DE NOVO, ela é contra a igreja (IECLB) estar envolvida e processo político.... apenas isso.
Tampouco encontramos qualquer referência às mais de 220 mil mortes (hoje já mais de 230 mil) vítimas dessa pandemia em nosso país. Na petição de impeachment são dezenas e dezenas de páginas elencando tudo isso.
Digo eu: Dezenas e dezenas de páginas que, certamente, dizem o que a imprensa “oficial” mostra todos os dias, inclusive aos políticos com assento na Câmara dos Deputados. Que perda de tempo e energia! Mais uma vez, ainda que mortes sejam extremamente lamentáveis, a Associação, pelo que sei, sempre manifestou o seu pesar às famílias enlutadas.
Que compreensão esta Associação tem do compromisso vicário da fé para com as pessoas que sofrem?
Digo eu: Talvez menor do que a que deveriam ter os ministros e ministras da IECLB, preocupados em participar da militância político-partidária, subindo em carros de som de políticos e/ou abrindo faixas em grupos de manifestantes nas principais vias pública.
Ainda que desnecessário, mas oportuno neste ponto, convém citar o esforço empreendido pela Associação no socorro possível às famílias assoladas pelas enchentes recentemente ocorridas em Presidente Getúlio-SC.
A Associação Luteranos Herdeiros de Worms, divergindo, teria que contra-argumentar, fazendo a defesa das palavras, manifestações, gestos, comportamentos, decisões e omissões do Presidente, expondo por que julga terem elas sido condizentes com a responsabilidade do cargo que ele ocupa.
Digo eu: A Associação, DE NOVO, só para reforçar, não é entidade política e tem objetivos claros e bem escritos a respeito da sua atuação em prol da Igreja Luterana, só isso!
Mas não, ela julga não necessitar fazer nada disso, passando a acusar sumariamente quem pensa diferentemente dela, acusando de que não foi observado um preceito bíblico e muito menos a confessionalidade luterana. Trata-se de algo inaceitável! Sob qualquer ângulo da questão, esta não é uma expressão legitimamente defensável no contexto da IECLB.
Pedindo escusas democráticas aos que entendem de forma diferente, são os meus comentários,
Carlos Roberto dos Santos Caldeira
Membro e ex-presbítero da Paróquia Evangélica Luterana no Rio de Janeiro - Martin Luther
(*) Reações ao texto publicado pelo P. Emérito Dr. Walter Altmann, em seu perfil do facebook, no dia 08 de Fevereiro de 2021
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