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IGREJA REFORMADA SEMPRE EM REFORMA

Nesta semana, comemoramos os 502 anos da Reforma Protestante e é muito ​bom perceber o quanto a reforma mudou o mundo, desde a relação entre Igreja e Estado, até a participação das mulheres na vida na igreja.

 

Os reflexos da reforma na sociedade são perceptíveis, até mesmo no Brasil, onde encontramos inúmeros colégio e hospitais luteranos. É importante lembrar que a reforma protestante não era vista por Lutero como um momento pontual na história. Lutero entendia que a reforma deveria ser constante.

frase "Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est", de autoria do holandês Gisbertus Voetius, proferida no Sínodo de Dort (1618-1619), significa "Igreja Reformada Está Sempre Em Reforma". Essa expressão teológica latina tem sido usada muitas vezes, por algumas lideranças luteranas, para sustentar a visão de que a igreja deve estar em constante mudança, adaptando-se aos movimentos sociais, para ser relevante na sociedade contemporânea.

 

Não é por menos que esta frase costuma ser proferida quando surgem novas "teologias contextualizadas", como a teologia feminista, a teologia queer (gay), a teologia indígena e a teologia ecologista, etc. Para muitos teólogos, uma igreja em constante reforma é uma igreja "politicamente correta" ou seja, uma igreja que se enquadra nos padrões éticos, morais e sociais de sua época, no intuito de criar uma imagem de tolerante, inclusiva, amigável, amorosa, etc. Mas, será mesmo neste sentido que "Ecclesia Reformata et Sempre Reformanda Est"?

É importante entender que a Reforma, para Lutero, não era uma adequação da igreja à época em que ele estava vivendo. Lutero não era um simples fruto do Renascentismo, movimento que surgia na sua época e que centralizava o pensamento no homem e não mais em Deus. Muitos acreditam que Lutero, influenciado pelas ideias Humanistas, acabou levando a visão da centralidade do homem para a igreja. Acontece que Lutero não estava preocupado com nenhuma centralidade do homem. Ele estava justamente preocupado com o pecado do homem e com o quanto é impossível que o homem mereça salvação, a ponto de ninguém ter capacidade de conceder perdão a tamanho pecador a não ser o próprio Deus.

Para Lutero, a salvação não pode ser dada pela Igreja, mas somente pelo próprio Deus. O reflexo do Humanismo em Lutero pode ter apenas o levado a entender a salvação como algo pessoal e não dependente de intermediários como a Igreja da época afirmava ser. O perdão era dado pelo Papa e outorgado por ele para ser distribuído pelos padres. Por isso, o perdão era dado pela Igreja e não diretamente por Deus. Fato é que Lutero olhava para a relação do homem com Deus e com a Igreja, a partir do que as Escrituras mostravam. Neste sentido, Lutero não quis adaptar a igreja à realidade da sua época, mas submetê-las à autoridade das Escrituras. Até então, a interpretação das Escrituras era monopolizada pela Cúria Romana, um órgão da igreja responsável por dizer como a Bíblia deveria ser interpretada. Lutero entendia que não deveria mais haver intermediários entre Deus e o homem. Para ele, todo homem deveria ter acesso direto àsEscrituras, sem a necessidade de uma Cúria para lhe dizer como deveria interpretar a Bíblia.

Mas, Lutero não entendia que cada um deve interpretar a Bíblia segundo suas próprias convicções ou que a Bíblia deve ser interpretada de acordo com a ética, moral, costumes vigentes na sua época. Por isso, ele afirmava que as Escrituras interpretam a si mesmas. Para isso, ele usava o método de interpretação histórico gramatical, que se preocupava com a interpretação dos textos bíblicos de acordo com aquilo que eles queriam dizer objetivamente e não de acordo com o que o leitor entenderia.

método histórico gramatical era um sinal de que Lutero não queria fazer com que a Igreja se adequasse ao renascentismo de sua época. Lutero não era nenhum moderninho descolado, querendo modernizar a Igreja ou tornar ela "politicamente correta". O que ele queria, era justamente fazer com que a Igreja retornasse às suas origens. Como a origem de toda a fé cristã está nas Escrituras, é de lá que a Igreja deveria tirar diretamente suas convicções. Entender o que a Bíblia quer dizer objetivamente é mais importante do que interpretar ela de acordo com as tendências de sua época ou das suas ideias. Voltar para os textos bíblios, fez Lutero perceber que a salvação não dependia da Igreja, como a Cúria pregava, nem dos homens como o renascentismo apontaria, mas única e exclusivamente de Deus.

Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est não é uma Igreja em constante mudança, para acompanhar a sociedade ou para ser relevante no mundo ou para ser "politicamente correta". A Igreja deve estar sempre em reforma, para se voltar constantemente às Escrituras. Novas interpretações e novas teologias não são sinal de uma Igreja em constante reforma. São sinal de uma Igreja que se distancia cada vez mais da sua Fonte Primordial. Deixamos de interpretar as Escrituras, conforme a própria Escritura deseja ser interpretada e passamos a interpretá-las de acordo com o que pensamos ser moralmente, eticamente e socialmente bom.

Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est é uma Igreja constantemente preocupada com sua fidelidade a Cristo e às Escrituras. Preocupada em interpretar as Escrituras de acordo com as próprias Escrituras e não de acordo com as convicções e com a sociedade pós-moderna. Para ser relevante, a Igreja não precisa ser atual e nem adaptada. Ela precisa pregar o verdadeiro Evangelho da Cruz e não o amor ao próximo, sem o respectivo chamado ao arrependimento.

Só pode haver perdão dos pecados mediante o arrependimento e o arrependimento só pode existir através da pregação do Evangelho. Devemos ser uma Igreja constantemente em reforma, voltando constantemente nossos olhares para as Escrituras. Para o que as Escrituras querem ser e não para o queremos que elas sejam. Que possamos voltar nossos olhos constantemente para a Palavra de Deus e sermos sempre a Igreja da Palavra e não a Igreja das Palavras, que uma teologia para cada classe social, grupo e minorias.

palavra é uma só para todos. Não precisamos de muitas teologias contextualizadas. Precisamos de uma teologia voltada para a Verdade divina. Se pregarmos o verdadeiro e puro Evangelho, não precisaremos de nenhuma outra teologia. Apenas da Graça e do Perdão de Deus.

Jonatas Natanael Caprestana

Diretor Sociocultural

Associação Cultural Herdeiros de Worms

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