
IGREJA MISSIONÁRIA OU MISSIONAL?
MISSÃO CRISTÃ NOS DIAS DE HOJE!
- O QUE ENTENDEMOS COMO MISSÃO? -
- COMO ACONTECE NA PRÁTICA? -
- QUAL A MOTIVAÇÃO? -
Ao longo das últimas décadas, o tema "missão", sempre de novo, entrou em destaque na IECLB. Temas e lemas do ano, concílios, seminários, consultas e publicações abordaram o assunto.
Falar em missão não é necessariamente sinônimo de obediência à ordem de Jesus de pregar o Evangelho a todas as pessoas, ou sinal de saúde espiritual da igreja. Existem muitas falsas definições e pseudo motivações para tanto: Modismo, movimentar e agitar a comunidade, aumentar o número de membros, visando melhorar a arrecadação financeira, estimular a criação de novos campos ministeriais, para garantir colocação aos pastores recém formados, imitar outras confissões religiosas, evitar o fechamento de comunidades e paróquias, evitar que as seitas roubem os membros, etc.
Em um passado mais recente e na atualidade, o assunto "missão" vem recebendo uma atenção especial e está sendo tratado com relevância. Desta vez, a abordagem está sendo feita em forma de pergunta:
A IGREJA DEVE SER MISSIONÁRIA OU MISSIONAL?
Esta indagação nos remete, de imediato, a outra pergunta: Qual a diferença?
Segundo os estudiosos e articuladores do assunto, igreja missionária é aquela que promove e desenvolve atividades e projetos missionários, enquanto a igreja missional tem na missão a sua essência.
Em outras palavras, igreja missionária faz missão, igreja missional é missão. Teoricamente, esta definição e diferença está evidente e clara. Mas, como se manifesta e se aplica na realidade contextual da IECLB? Além do mais, convém perguntar se todas as comunidades e paróquias da nossa igreja são missionais ou, pelo menos, missionárias?
Juan Carlos Ortiz afirma, em um dos seus livros, que "muitos cristãos acham que a função da igreja e dos pastores é entreter os seus membros, até que o Senhor os chame à eternidade". São ritos, celebrações, ofícios, eventos e programas sem nenhum propósito, realizados por mero costume ou tradição. Neste contexto, Robert E. Coleman afirma no seu livro "O Plano Mestre de Evangelismo", que: "pelo simples fato de que estamos atarefados a fazer algo, ainda que sejamos habilidosos nisso, não significa, necessariamente, que estamos conseguindo realizar alguma coisa."
Para que essa reflexão não fique limitada e restrita ao aspecto teórico, mas proporcione e possibilite um real proveito para a IECLB como um todo, é necessário definir e aprofundar algumas questões básicas diretamente relacionadas à missão.
O pressuposto para a igreja ser missional é conhecer realmente a Deus e a Sua vontade, conhecer a realidade do ser humano que vive afastado de Deus e conhecer a tarefa que o Senhor deu aos cristãos. Onde esses três pressupostos estiverem devidamente claros e assumidos, a missão acontece naturalmente.
Iniciemos refletindo sobre o conceito de Deus. O mercado religioso cresceu vertiginosamente, nos últimos anos. E, por incrível que pareça, o analfabetismo bíblico vem crescendo na mesma proporção. Com isso, cresce também o número de pessoas que tem um pseudo conceito de Deus, que pouco ou nada tem em comum com o Deus único e verdadeiro, que se revelou em Jesus Cristo. A identidade de Deus e a sua vontade soberrana para conosco é revelada na Bíblia.
Em 1 João 4:16, nos é dito que Deus é amor. Em 1 Timóteo 2:4, está escrito que Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Para manifestar o seu amor e concretizar a sua obra salvadora e soberana vontade, enfrentou a morte na cruz. Em resumo, a Bíblia nada mais é senão o grande compêndio da missão de Deus, cujo centro é Jesus Cristo e sua obre é redentora.
O Antigo Testamento aponta para Ele e o Novo Testamento testifica dEle. Esta descrição da identidade de Deus e da sua obra, embora muito resumida, evidencia um Deus missional, que quer alcançar a todos com seu amor e sua salvação. Deus tem somente um filho fez deste um missionário. A partir dessa verdade, não é nada difícil concluir que a Sua vontade para com a igreja é que ela seja igualmente missional.
Reflitamos agora sobre a igreja e sua tarefa nesse mundo. Em 1 Pedro 2:9-10, está escrito: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de PROCLAMARDES AS VIRTUDES DAQUELE QUE VOS CHAMOU DAS TREVAS, PARA A SUA MARAVILHOSA LUZ; vós, sim, que, antes, não érreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórida, mas, agora alcançaste misericórdia."
A partir deste texto, concluímos que a comunidade missional é constituída de pessoas evangelizadas, vocacionadas para proclamarem as virtudes de Deus. Para testemunharem a sua fé, é indispensável que tenham sido edificadas e capacitadas para tanto. A evangelização, edificação e capacitação resultam no trinômio da pregação e do ensino da PALAVRA, na vivência em comunhão e no desempenho do serviço.
Segundo o padrão bíblico, a igreja é a única cooperativa ou associação, cujo objetivo é beneficiar aqueles que ainda não são cooperados ou associados. Isto é, membros. Infelizmente, há muitos cristãos que são da opinião que a ordem de pregar o Evangelho a todos, conforme Mateus 28:19-20 e Marcos 16:15 foi, entre outras, uma última ideia que Jesus teve no fim da sua jornada terrena. Como se estivesse ocupado com mil coisas e, no fim, ainda dissesse: "Ah! Tem mais uma coisinha... antes que eu esqueça, falem também aos outros do meu amor."
Em 1 Coríntios 9:19 ss, o apóstolo Paulo afirma ter clareza quanto ao alvo e propósito do seu trabalho. Fez-se tudo para com todos para, por todos os meios, levar pelo menos alguns à fé. E, em Colossenses 4:5, ele exorta a igreja loca, dizendo: "Portai-vos com sabedoria, para com os que são de fora; aproveitai a oportunidade."
A igreja justifica a sua existência e a sua razão de ser, na medida em que corresponde à sua vocação de ser missional, porque a missão da igreja é a missão., Quando ela negligencia o seu propósito e a sua vocação, a grande comissão de fazer discípulos se torna a grande omissão. No lugar de membros, surgem sócios; a comunhão vira confusão; no lugar de convertidos, surgem convencidos; no lugar de colaboradores, consumidores; no lugar de discípulos, cliente.
O povo brasileiro gosta de siglas. Nesse artigo, está sendo criado mais uma, diretamente relacionada à essência da igreja: "PIT". A igreja precisa ser PARTICIPATIVA, INTEGRADORA e TERAPÊUTICA. Pessoas bem intencionadas perguntam com frequência: "O que a nossa igreja precisa fazer para crescer?", ou "Porque a nossa igreja não cresce". Geralmente são esperadas e, também, dadas respostas que remetem a métodos, estratégias e fórmulas. De fato, há somente uma resposta a esta indagação: Se não há crescimento, é porque não há missão, porque o trabalho de Deus, feito segundo a vontade de Deus, sempre tem a benção de Deus. Em um corpo saudável e sadio, o crescimento ocorre naturalmente.
Como foi dito anteriormente, para ser missional, a igreja precisa conhecer a Deus e a vontade soberana dEle, a razão da sua existência e a realidade do mundo no qual está inserida. Enfoquemos agora este terceiro e último aspecto:
Pesquisas e estatísticas constatam e comprovam que cristão recém convertidos levam bem mais pessoas à fé do que crentes veteranos. Não é difícil entender e explicar este fato.
O recém convertido, vivendo plenamente a novidade de vida, conhece muito bem a diferença entre a de outrora e a que experimenta agora.
O veterano na sua fé, pelo contrário, já não se lembra de como era vazia a sua vida sem Deus. E, além disso, já não tem nenhum vínculo com descrentes.
Também, nesta área, a igreja a aprender com Jesus. Em Mateus 9:35 ss, está escrito que Ele percorria as cidades e povoados "e vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas, como ovelhas sem pastor." Em Efésio 2:12, o apóstolo Paulo afirma que as pessoas sem Cristo não têm esperança. Nesse contexto, é necessário que façamos um diagnóstico da realidade que nos cerca hoje.
O que caracteriza a sociedade humana do Século XXI são: temores, incertezas, frustrações, fracassos, insegurança, massificação, solidão, competição, perda de identidade, etc...
Em síntese, um verdadeiro caos: inversão de quase todos os valores éticos e morais, corrupção institucionalizada, economia decadente, crise no mercado de trabalho, desemprego em alta, desníveis sociais cada vez maiores, urbanização desordenada, desagregação da família, paternidade e maternidade irresponsáveis.
Neste contexto, é relativamente fácil entender porque tantos se refugiam nas drogas, no sincretismo religios, buscando experiências sobrenaturais e extra sensoriais, etc.
Infelizmente, muitos dos que se dizem cristãos, vivem como se estivessem anestesiados ou adormecidos, conforme Efésio 5:14 ss, não enxergando essa terrível realidade. Há, no entanto, pessoas, organizações e instituições, que reconhecem, analisam, interpretam e, inclusive, têm explicação para esta situação. Não que isto não fosse importante mas, para a igreja, foi dada a tarefa de transformá-la, sendo luz e sal.
Se os membros da igreja não viverem alienados, mas conhecerem a triste realidade em que se encontra o ser humano, que vive longe de Deus e, da mesma forma, conhece o Deus da Bíblia e o que tem a oferecer, há de envolver-se na missão. Porque Jesus Cristo é e tem tudo o que o homem tanto almeja e precisa. A busca por esperança, ele encontra no Evangelho.
O sentido da vida reconhece através da aceitação do amor de Deus.
A solução para a solidão e massificação, ele terá na comunhão da família de fé. Uma igreja que vive o trinômio "palavra, comunhão e serviço" tem em Deus o suprimento para todas as necessidades e angústias.
Se o propósito deste artigo fosse tão somente a abordagem descritiva de Deus, uma análise da realidade do mundo e o enfoque da missão da igreja, jamais teria investido tempo para redigí-lo. O objetivo dessa reflexão é trazer ideias e propostas concretas e praticáveis nas comunidades e paróquias da IECLB.
Olhando as diferentes comunidades cristãs mais de perto, constatamos quatro grupos distintos: o primeiro não consegue manter o número de seus membros. Há um constante decréscimo. O segundo, mantém com sacrifício e esforço o quadro de seus membros estável. O terceiro vai um pouco mais além e experimenta um pequeno crescimento, mediante o acolhimento e a integração de migrantes que são da mesma confissão.
Há, ainda, um quarto grupo. As comunidades que integram este, experimentam um contínuo e constante crescimento decorrente da sua consciência e atuação missional, ultrapassando as diferentes fronteiras e barreiras, alcançando e integrando pessoas de fora. O que deve ser feito, para que as comunidades do primeiro, segundo e terceiro grupos passem a integrar o quarto? Onde como começar?
O ponto de partida não pode ser outro senão a palavra de Deus. Ministros, presbíteros e líderes de pequenos grupos devem enfocar continuamente no seu planejamento e nas suas abordagens, a identidade de Deus, como sendo o missionário por excelência. Da mesma forma, devem destacar a tarefa primordial da igreja e dos cristãos, que é testemunhar o amor de Deus, revelado na obra redentora de Jesus, que veio para buscar e salvar o perdido, conforme Lucas 19:10.
As comunidades e seus membros precisam ser despertados e educados para a missão, que é a maneira bíblica de ser cristão e igreja de Jesus Cristo. As pregações, reflexóes e estudos sobre o assunto terão como resultado convicção, motivação, disposição e definição quanto à missão.
Também aqui a PALAVRA não voltará vazia. A convicção nasce do reconhecimento da vontade soberana do Senhor, de que todos sejam salvos e que o Evangelho seja pregado a toda criatura.
A motivação surge quando o cristão e a igreja olham o mundo com os olhos de Jesus. A disposição é consequência da obediência ao Senhor, quanto ao IDE E PREGAI O EVANGELHO e decorre do amor que se tem para com o próximo e o mundo que nos cerca.
O alicerce e o elemento norteador para a convicção, motivação e disposição é a definição que se tem de missão. SER MISSIONÁRIO É TRANSPOR BARREIRAS. Pela Bíblia, descobre-se que Deus é o missionário por excelência. Por intermédio da sua revelação em Jesus, transpôs todas as suas barreiras: Do divino para o humano; do celeste para o terreno, do santo para o pecaminoso; do sagrado para o profano; do eterno para o temporário. Tudo isso, com um único propósito: buscar e salvar o perdido.
A igreja de Jesus Cristo tem a mesma missão: TRANSPOR BARREIRAS, COM O PROPÓSITO DE LEVAR O EVANGELHO DE JESUS CRISTO ONDE AS PESSOAS VIVEM E CONVIVEM; CAMINHAR COM ELAS, PARA QUE CREIAM E APRENDAM A ARTICULAR E TESTEMUNHAR A FÉ NO SEU CONTEXTO DE VIDA. As barreiras a serem vencidas pela comunidade local, podem ser as mais diversas: ètnicas, sociais, culturais, geográficas, de idioma, etc.
No início deste artigo, foi dito que a igreja não só deve fazer missão, mas ser missional, ou seja: que sua essência seja a missão. Mas, nesse contexto, repito o que já foi dito anteriormente: na prática, a teoria é outra.
Dificilmente uma comunidade ou uma igreja se torna missional, sem passar pelo estágio de simplesmente fazer missão.
Abaixo seguem algumas orientações simples, facilmente praticáveis e que podem ser o ponto de partida, o fermento na massa, para que a comunidade deixe de pertencer aos grupos 1, 2 e 3, anteriormente mencionados e passe ao grupo 4, ou do estágio missionário para o estágio missional:
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Que a missão tenha primazia na vida de oração da comunidade e de seus membros
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Que o ministro, os presbíteros e os colaboradores que lideram os diferentes ministérios da comunidade, abordem constantemente o tema missão, com referencias e definições clara, biblicamente alicerçadas, sobre Deus, sua vontade, sobre a igreja e a sua razão de ser e o caos reinante no mundo;
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Que cada comunidade a paróquia crie e tenha um conselho de missão, que reflita e motive continuamente os diferentes setores ao engajamento missional;
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Que o ministro, o presbitério, os líderes comunitários e o conselho de missão identifiquem grupos não alcançados com o Evangelho, transpondo a barreira existentes com o propósito de levar o Evangelho aos mesmos;
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Que os alcançados por estas experiências de transposição de barreiras, sejam inseridos na igreja ou na comunidade, através de pequenos grupos;
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Que os evangelizados sejam alimentados e acompanhados, visando o seu crescimento na fé e o seu comprometimento com a missão.
Arno Paganelli