
A IECLB NÃO É DE ESQUERDA E TÃO POUCO DE DIREITA,
ELA É IGREJA DE JESUS CRISTO NO BRASIL.
(Constituição da IECLB - Art. 1º)
Nos últimos tempos, acompanho uma crescente divisão na IECLB. Há comunidades luteranas perdendo mais e mais membros, devido aos diversos embates político-partidários. Há quem defenda os partidos de esquerda, há quem defenda os partidos de direita. Esquecem, por vezes, que ambos os sistemas políticos não representam a trajetória da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
É bem verdade, que há líderes e membros que "pendem" mais para um lado ou para o outro. Eu mesmo, muitas vezes, enfrentei pressões, por falar o que penso e ora contrariava o grupo A, ora contrariava o grupo B. Após muito tempo e observância, aprendi que a Igreja está muito acima desta "queda de braço".
Ser cristão luterano é zelar pelo princípio da liberdade de pensamento e não pelos princípios das "colonizações ideológicas". Ser de esquerda ou de direita não faz alguém melhor. Ambos os movimentos políticos possuem coisas boas e notórias, mas exigem cuidados, pois há "mazelas" de todos os tipos.
A IECLB não pode ser vista ou compreendia como um "local" de imposição política ou um "local" de imposição política ou "guerra ideológica". Ela é um "local" onde o diálogo precisa acontecer de forma respeitosa. Um "local" onde cada pessoa pode e deve escolher o que deseja, sem a necessidade de impor as suas preferências partidárias como "regras de vida".
Lembro que o "fanatismo político partidário" não é tão diferente do fanatismo religioso. Ambas as situações, as pessoas são levadas a estágios alterados de consciência. Isso significa que podem perder o controle diante da diversidade de pensamento, praticar a intolerância ou até mesmo ações destrutivas. O ideal é manter a preferência político-partidária como uma parte importante da vida, mas não a única. Há um ditado popular, que diz: "todo excesso faz mal, assim como toda falta". Isso significa que é aconselhável saber equilibrar!
Em 1981, em uma palestra na Escola Superior de Teologia, o então Pastor Presidente da IECLB Augusto Kunert, destacou:
A IECLB deve manter presente que sua atuação pública não pode ser diferente de sua atuação interna. Ela tem incumbência de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, válido para a comunidade cristã, como para a sociedade toda. Jamais a IECLB poderá assumir o papel de uma ideologia político-partidária. Com isso ela deixaria de ser evangelicamente atalaia, consciência e voz profética, para seguir e confundir-se como partido político. Em todo respeito, honra, amor à pátria e obediência às autoridades, deve ficar claro que 'antes devemos obedecer a Deus do que aos homens.'"
(Aspectos de Relação IECLB e Estado, Em Uma Compreensão Histórica e Teológica)
Ampliando a reflexão. Há muitos setores do cristianismo global se manifestando sobre as divisões causadas pelas "guerras" político-partidárias. Fato é que a sociedade global enfrenta um crescente cenário de polarização. Algo muito preocupante. O diálogo foi substituído pelo fanatismo em diferentes contextos do planeta. Uma amiga alemã, que atua, há mais de dez anos, com geopolítica, questionou: "eu não entendo como algumas forças da sociedade agora querem modar-nos para ser uma coisa, extrema direita ou extrema esquerda. É tão óbvio o que está acontecendo, mas a maioria não o vê. Cada um de nós é muito mais do que um membro de um partido político."
Abaixo, outras reflexões construídas com os dados disponibilizados pela plataforma internacional, "Cristãos Para Ação Social". Se o cristianismo significa amara a Deus de todo o coração, alma e mente e amar o próximo como a si mesmo, as pessoas de todas as identidades políticas ficam aquém da doutrina central de Cristo sobre o amor sacrificial. Nenhum partido político assumiu as crenças cristãs e, apesar da retórica religiosa de cada lado, dos apoios religiosos e das tentativas apaixonadas de garantir os eleitores cristãos, também não tem os melhores interesses de Deus no coração!
Os partidos políticos são encarregados de muitas coisas, mas a proclamação do Evangelho não é uma delas. No entanto, muitos cristãos continuam a cair na tentação de limitar a prática de sua fé de acordo com suas crenças políticas e, muitas vezes, estão dispostos a seguir Jesus até o ponto em que isso é agradável às ideologias político-partidárias.
Os seguidores de Cristo devem compreender que o Reino dos Céus nunca será plenamente realizado por meio de governos ou políticas humanas, mas pelo amor de Cristo e pelo poder do Espírito Santo.
E, de acordo com a Bíblia, podemos dizer como são os frutos desse tipo de reino divino: alegria, paz, felicidade, autocontrole, caridade, graça, perdão, justiça, esperança e amor.
Quando os cristãos cooptam sua fé injetando "agendas" de um determinado partido político, o exemplo de liberdade de Jesus pode ser trocado por controle, sua esperança pode ser trocada por diretrizes partidárias, seu amor pode ser trocado por indiferença aos que pensam diferente e sua divindade pode ser trocada por idolatria deste ou daquele "líder político". O cristianismo, então, fica comprometido por ideias, propagandas e agendas que nem sempre têm a ver com Jesus.
E como fica o diálogo com os valores bíblicos? Aqueles que a Bíblia chama de "nosso próximo"? Há relatos sobre agendas ideológicas injetadas em diferentes comunidades cristãos pelo grupo A, que resultou na exclusão do grupo B e vice-versa. O cristianismo se transforma em algo que não se parece em nada com o Cristo que afirma adorar.
Outros exemplos:
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Como ajudar os pobres se tornou pauta do grupo A e não do grupo B?
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Como aceitar o estrangeiro se tornou tão discutível?
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Como a prestação de ajuda aos mais oprimidos se tornou tão censurável?
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Como o acolhimento aos refugiados se tornou tão questionável?
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Como o fornecimento de esperança e assistência aos imigrantes se tornou tão divisível?
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Como diversas comunidades cristãs foram "separadas" entre pobres e ricos?
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Como muitos empresários sérios foram esquecidos pelas Igrejas e, igualmente, rotulados?
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Como empregadores (pessoas empreendedoras) foram rotulados de opressores?
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Como ocorreu a divisão entre grupo A ou B em nossas comunidades cristãs?
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Como coisas como justiça, igualdade e caridade se tornaram tão controversas?
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Como falar de uma economia mais forte se tornou algo vinculado ao grupo A ou B?
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Como o cristianismo se tornou tão direcionado?
Verdades simples e fundamentais que são princípios centrais da fé cristã - tratar os outros como você gostaria de ser tratado, amar o próximo - de repente ficam confusos e cheios de conflitos. Porque?
Os cristãos podem tornar-se tão irracionalmente cegos pelas guerras culturais, debates e suas próprias opiniões sobre questões importantes que, muitas vezes, sacrificam o Evangelho de Jesus. Em vez de procurar humildemente seguir o exemplo de Cristo, muitos de nós prefeririíamos permanecer fiéis à nossa própria visão ideológica e política do mundo.
Jesus não estava alinhado a nenhum partido político e, surpreendentemente, se destacou das instituições e movimentos políticos de sua época. jesus foi preso, julgado e, finalmente, torturado na cruz, por se recusar a se submeter às autoridades governamentais. O Império Romano, os sistema políticos dominantes da época de Jesus, matou legalmente Jesus - de acordo com as leis e políticas burocráticas estabelecidas - de uma das maneiras mais humilhantes e dolorosas possíveis.
As primeiras gerações de cristãos foram igualmente mortas e martirizadas por se recusarem a abandonar o Evangelho por qualquer tipo de causa ou autoridade política e permanecerem fiéis a Jesus, apesar de terem de sacrificar literalmente tudo.
Concluindo... os cristãos podem se envolver na política? Sim, assim como os sistemas políticos podem trazer bons e justos resultados (que os cristãos devem apoiar), mas nossas lealdades políticas nunca devem custar à "marginalização do Evangelho de Cristo e nunca devem ser prejudicial para aqueles e aquelas feitos à imagem de Deus (toda a humanidade).
Se você mantém essa visão, deve perceber que nem todas as políticas partidárias representam a vontade de Deus. E o "casamento" entre segmentos político-partidários e a Igreja Cristã já trouxe enormes prejuízos ao longo dos tempos.
Vale relembrar as palavras do Pastor Kunert: "Somos evangelicamente ataliaias". O que significa? Nos tempos bíblicos, as pessoas atalaias tinham a função de guardar uma cidade, uma aldeia, um acampamento ou mesmo um povo itinerante. Elas andavam pelas ruas da cidade como "guardiãs" ou ficavam sobre os muros e torres das cidades fortificadas (2 Samuel 18:24; Reis 9:17-20; Isaías 62:6; Cantares 3:3 e 5:7).
Nas peregrinações e diferentes ciclos, as pessoas que eram chamadas de atalaias foram responsáveis por vigiar e guardar os "seus", especialmente durante a noite e dos perigos à volta.
Pergunta: Você concorda que há muitas divisões político-partidárias? O que tem a dizer? E como encontrar caminhos de diálogo em uma sociedade polarizada? Neste último aspecto, a Igreja pode ser um ambiente de diálogo?
Um abraço,
P. Sidnei Budke