
EXCRESCÊNCIAS TEOLÓGICAS
- É tudo uma grande Merda! -
4 Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: 5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu, 6 segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. 7 Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. 8 E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo 9 e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé; 10 para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte; 11 para ver se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos.
12 Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. 13 Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, 14 prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
(Filipenses 3: 4-14 - Almeida Revista e Corrigida 2009 - ARC)
Em tempos de quaresma cabe a nós, como herdeiros da promessa de salvação de Cristo, à qual participamos por intermédio do seu sacrifício e ressurreição, refletir mais uma vez sobre o objetivo da Igreja. O apóstolo Paulo escreveu em 1 Coríntios 15.13-14:
“... se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressus- citou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.”
E conforme veremos; o mesmo apóstolo, neste trecho de sua cata aos cristãos de Filipos, não só a ressurreição é crucial para a fé cristã como também a centralidade do próprio Cristo.
Nossa mensagem inicia com uma “carteirada de Paulo”. Ele está mostrando suas qualificações como cidadão judeu legítimo, circuncidado ao oitavo dia, conforme a lei levítica e o pacto de Deus com Abraão.
Ser batizado ao oitavo dia é uma prova de que você nasceu judeu ou pelo menos em família judia. Somente pessoas convertidas ao judaísmo eram batizadas posteriormente. Paulo afirma ser da “linhagem de Israel”.
Todo judeu legítimo era obrigado a saber, de cor, recitar toda a sua genealogia até Davi. Essa é uma tradição judaica que segue até os dias de hoje. Inclusive, pertencer a tribo de Benjamim, mostra que Paulo pertencia a mesma linhagem do rei Davi, o que o posicionava entre as linhagens mais importantes de Israel.
Podemos dizer que era como um luterano de berço, descendente de alemães, batizado, confirmado, casado e pagador da contribuição mensal da igreja. Muita vezes vemos irmãos luteranos se gabando pelo mesmo motivo.
Em uma entrevista para o período prático de habilitação ao ministério na IECLB, uma das primeiras perguntas feitas, foi sobre a origem, visto que o sobrenome do candidato não é alemão e nem a aparência. O candidato deu sua carteirada como Paulo; afirmou duramente que foi batizado, confirmado e casado como luterano. Mas diferente de Paulo que nasceu judeu, não é descendente de alemães.
Ao afirmar ser hebreu de hebreus, Paulo também está afirmando que é nativo de língua hebraica. Foi educado na língua nativa dos hebreus pelo mestre Gamaliel, professor importante entre os estudiosos hebreus. Respeitadíssimo entre os Fariseus, que era a corrente teológica predominante nos dias de Jesus e assim permaneceram pelo menos até a morte de Paulo. Dai também sai a afirmação de Paulo sobre ser fariseu, o que significava que ele era um dos estudiosos mais importantes da lei entre os estudiosos fariseus. Quando afirma ter sido perseguidor da igreja, Paulo somente reafirma seu compromisso com a lei e a liturgia farisaica. Para os fariseus os cristãos constituíam risco para o judaísmo e por isso deveriam ser perseguidos e até mortos visto que eram tidos como hereges por não pregarem o cumprimento da lei ao pé da letra.
Nossa tradição luterana muita vezes supervaloriza a teologia alemã, principalmente do século XX. Muitos de nossos estudiosos e doutores em teologia tem orgulho de sua formação acadêmica ter passado por universidades alemãs. Em muitos casos parece, inclusive, que falar alemão é um pré-requisito para deslanchar na carreira acadêmica dentro de nossas universidades. Nossos mestres têm orgulho de citar grandes teólogos como Schweitzer e Bultmann, pais da teologia liberal que evoluiu com o gramscismo, o marxismo e o relativismo pós moderno e se tornou o maior problema teológico das igrejas histórias de nosso tempo.
A teologia liberal se tornou corrente tão forte no nosso meio eclesial, que chegou ao ponto de qualquer um que não comungar com esta corrente teológica ser simplesmente levado ao ostracismo, quando não, ser perseguido pelas lideranças eclesiais como foram perseguidos os cristãos pelos fariseus. Até mesmo nossa tradição e liturgia foram comprometidas por essas ideologias disfarçadas de teologia. Nosso lecionário é tomado de formas litúrgicas que estão preocupadas em fazer oposição puramente a injustiça social, ou ao machismo, ou ao racismo, ou a distribuição de renda, mas nada falam sobre a natureza transcendental de Cristo ou sequer de sua ressurreição.
Nossas lideranças de pronunciam como se fossem agentes de transformação social, iludidos pela agenda gramscista, seguindo cegamente o politicamente correto, como se não houvesse nenhuma dimensão ontológica do ser humano. O pecado original foi substituído pelo pecado social. Não se fala mais em arrependimento profundo e sincero de coração mas sim de transformação do mundo para construir o “Reino de Deus” na terra.
Muitos hinos cantados em nossas igrejas parecem mais com cópias da Internacional Socialista ou com canções do MST, do que com os antigos e profundos hinos que cantávamos como expressão de louvor a Deus. Quantos de nós foram vítimas de perseguição por causa da nossa teologia, chamados de loucos e intransigentes, simplesmente por não usar os métodos liberais e nem a liturgia baseada nesses métodos.
Paulo chamaria todas essa teologia liberal, essa liturgia social, esse pensamento politicamente correto e essas ideologias infiltradas que vimos acontecer hoje do mesmo que chamou em seu tempo. A palavra traduzida em português ameniza o xingamento do apóstolo.
O que para nós foi traduzido como “esterco” está escrito em grego como “skúbala” (aquilo que se joga aos cães, excremento humano), o que poderia ser melhor traduzido como “merda”.
Que possamos, assim como Paulo, lançar toda essa merda fora de nossa igreja e nossas comunidades. Que possamos seguir para o único alvo que importa: Cristo.
Justiça social, é importante mas ela não passa de “merda” se não nos voltarmos para o “alvo”.
O alvo que, precisamos sempre lembrar novamente, morreu por nós para pagar por nossos pecados e ressuscitou. Se nossa teologia, nossa liturgia, nossa missão, nossos hinos, nossa igreja não crer nisso; a igreja luterana não passa de “merda”!
ASSOCIAÇÃO LUTERANOS HERDEIROS DE WORMS